quarta-feira, 4 de maio de 2011

Queime as cinzas e os ossos - OSAMA

E com hinos patrióticos americanos comemoravam a vitória sobre um mal que tiveram de criar para sua própria fábula: Osama se foi e vendo ao telejornal me senti em pleno Medievo com o grito dos camponeses: "Burn the Witch, burn the Witch!"



Milhares aos berros celebrando a morte em frente à Casa Branca, símbolo máximo de seu patriotismo. Contrastando com a ideia de Civilização, comemorava-se ali então a barbárie permitida, pois se trata de uma cruzada contra o mal, e caia um mito criado para assustar a todos do vilarejo - "o homem barbado e mal que mata gente como a gente". Com traços fortes e olhar enigmático ele representa tudo que não conhecemos e que por isso odiamos. Mais uma vez o mesmo jogo, a mesma manipulação conservadora contra os povos árabes, com um porém: derrubaram o rei negro. Mas não foi um xeque-mate.

O primeiro a falar é o primeiro a mentir: O rei da civilização branca afirma ter matado Osama. Para distorcer a história toda, simula heroísmo após dez anos do verdadeiro terrorismo. Torres foram derrubadas deliberadamente e milhares de corpos daqueles que não são de nossa Vila também. Milhões foram investidos contra uma invenção fajuta e nada ganhamos em favor de um mundo mais humano. Ao contrário.

Não é rogando praga, mas o feitiço pode voltar-se contra o feiticeiro. Cada vez mais aumenta o espírito anti-americano e agora estripolias sobre mais um corpo daquela civilização já cansada da opressão ocidental. A ameaça não vai acabar eeles estarão agora cada vez mais próximo. Nós, cegos em nosso ideal e ousando falar em justiça, não percebemos que usar da mesma medida que julgamos negativa apenas nos transforma mais em monstros. Terror maior se faz quando se submete belas palavras para um discurso hipócrita. Os ditos democrátas proibem véus e qualquer forma de insurgência. Ainda acreditam no universalismo de sua impressão sobre o mundo, ainda acreditam que podem fazer dele sua pequena vila possível, em que não há espaço para o outro.

Mas não se enganem, as medidas são todas acertadas. Há tensões que fazem do Oriente médio um caldeirão há anos, e não porque eles necessitam ser salvos - talvez só eles possam nos salvar de nós mesmos. Afundados em um etnocentrismo torto, não percebemos a legitimidade das revoluções que ainda estão ocorrendo no mundo árabe. Após uma guerra contra Kadaffi que não teve o êxito que se esperava na opinião mundial, Obama acreditou que possuía este as na manga. Porém a sujeira abaixo do tapete é muito maior e o líder da terra da liberdade tem de responder por Guantánamo, Bradley Manning e o Wikileaks de Assange, a perda de força nos principais pontos de apoio com a Revolução árabe, tudo isso além de uma pequena anamolia em seu quintal chamada Winconsin.

Não dá para ver isso tudo com muito otimismo, não é? Mas o que importa? Eles tiveram seu sábado de aleluia. Vejamos até onde pode manter-se este império fajuto. Logo serão criados novos personagens, eles continuarão protelando quanto aos fatos. Toda fábula se alimenta da inocência humana, não é mesmo?

Retirado do blog Inferno de Dante

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