No último dia doze de janeiro o governo brasileiro deu um passo histórico e irrevogável no caminho da integração latino-americana. A sanção da Lei que cria a Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA consolida a política brasileira de abertura ao continente, de resgate das identidades comuns e da busca de soluções autênticas para os problemas sociais da América Latina, sempre com o respeito à diversidade cultural.
A UNILA já é realidade, deixou de ser um projeto desafiador ou uma utopia daqueles que pensam e vivem o continente latino-americano. É a grande novidade e deve ser motivo de orgulho e entusiasmo, pois sepulta no passado as práticas dependentistas e o pensamento subserviente a uma intelectualidade estrangeira e inatingível para a realidade do continente, cujas teses abstratas sempre ocultam as ideologias, em nome da neutralidade do saber.
A nova Universidade é resultado da iniciativa do Ministério da Educação que elaborou o projeto de Lei em 2007 e que instituiu em março de 2008 a Comissão de Implantação da UNILA, composta por especialistas de reconhecida competência e presidida pelo Professor Doutor Helgio Trindade, cujo currículo de excelência dispensa apresentações.
A Comissão fez trabalho primoroso, aprofundou as discussões sobre os objetivos e princípios da Universidade, reuniu-se com professores de diversos países e realizou uma consulta internacional a diferentes especialistas latino-americanos que puderam apresentar a compreensão e delimitar os desafios de uma Universidade voltada à integração latino-americana.
A criação do Instituto Mercosul de Estudos Avançados – IMEA também foi determinante para o processo de constituição da Universidade. O IMEA é verdadeiro laboratório de idéias que congrega acadêmicos de reconhecimento internacional com o objetivo de contribuir, planejar e pensar as atividades da UNILA.
No segundo semestre de 2009, o IMEA promoveu - na sede provisória da UNILA localizada no Parque Tecnológico da Itaipu, em Foz do Iguaçu - as Cátedras Latino-Americanas. Esses eventos atraíram profissionais, professores e estudantes de diversos campos do conhecimento para debate sobre temas mais relevantes da atualidade, o que permitiu verificar tendências e necessidades que poderão ser contempladas nos novos cursos. Foi transmitida pela rede mundial de computadores e pôde receber sugestões de espectadores distantes. Nomes como Ignacy Sachs, Aldo Ferrer, Carmen Guadilla, Miguel Rojas Mix, Celso Pinto de Mello, entre outros, estiveram na Unila e contribuíram desde suas perspectivas para a nova Universidade.
A mobilização e engajamento que o nome da UNILA desperta possibilitou alguns avanços rápidos. A parceria com a Universidade Federal do Paraná – UFPR, como entidade tutora, foi crucial para a realização das primeiras atividades. O apoio da Itaipu Binacional resultou na instalação da Unila em sua sede provisória e na doação do espaço da sede definitiva, em Foz do Iguaçu. O projeto arquitetônico foi realizado por Oscar Niemayer, que se sentiu tocado pela grandiosidade da proposta. E inúmeras foram as pessoas que se envolveram nos trabalhos iniciais, sempre movidos pelas expectativas que uma Universidade dessa natureza é capaz de provocar.
Todo o trabalho já desenvolvido demonstra que o projeto pedagógico da Instituição está sendo pensado de forma criteriosa, contemplando uma variedade de pensamentos convergentes quando se trata de aliar ensino e integração, num espaço aberto e democrático, verdadeiramente sem fronteiras. A condução dos trabalhos é cuidadosa e se empenha em abrir desde o início os canais de comunicação necessários com os outros países, construindo as bases de um relacionamento duradouro e bem-sucedido.
Os desafios são imensos, pois a UNILA é uma instituição única no continente e possui compromissos que vão além das universidades tradicionais. Nasceu vocacionada para a integração, o que significa que deve interagir de forma nacional e transnacional, buscando o fortalecimento das relações entre os povos e valorizando o diálogo intercultural como metodologia de ação.
Para cumprir esses propósitos, a UNILA será bilíngüe (português e espanhol) e destinará metade das vagas para alunos latino-americanos, respeitando igual proporção para o corpo docente. A seleção dos alunos brasileiros ocorrerá pelo ENEM e exame semelhante deverá ocorrer nos demais países latino-americanos. Em seu pleno funcionamento a Universidade terá quinhentos professores e dez mil estudantes.
Os cursos de graduação e pós-graduação serão todos inovadores, não apenas em termos de currículo e metodologia de ensino, mas principalmente porque estão sendo estruturados para formar massa crítica capaz de dar respostas às vulnerabilidades da América Latina. Ao longo do tempo, cursos com esse perfil serão ofertados em todas as áreas do conhecimento, os primeiros no segundo semestre deste ano.
A história apenas se inicia. Vivemos um contexto de resgate de nossas capacidades perdidas, tentando superar o descrédito que um governo titulado impingiu às universidades públicas. Nesse campo, as políticas estatais estão consolidadas com a criação de treze novas universidades federais. A sociedade brasileira está preparada e certamente impedirá qualquer tentativa de retrocesso nesse sentido.
Gisele Ricobom é Doutora em Direitos Humanos e Desenvolvimento pela Universidade Pablo de Olavide e Professora Visitante da UNILA. (www.unila.ufpr.br)
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